Por que fazer análise sensorial na recepção do leite?

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1️⃣ O primeiro filtro da qualidade

Antes mesmo dos testes laboratoriais, o leite já fala por si. A análise sensorial é a primeira barreira de controle de qualidade, realizada logo na recepção da matéria-prima.
O avaliador treinado identifica, em segundos, indícios de problemas na ordenha, higiene, transporte ou conservação, evitando que lotes inadequados entrem no processo.

Essa triagem sensorial não é apenas tradição: é exigência normativa. A Instrução Normativa nº 77/2018 do MAPA determina que todo leite cru recebido deve ser inspecionado visual, olfativa e, quando aplicável, gustativamente, antes da aceitação.

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Art. 4º O leite cru refrigerado deve atender as seguintes características sensoriais:
I – líquido branco opalescente homogêneo; e
II – odor característico.

2️⃣ O que se avalia: visão, olfato e tato em ação

A análise sensorial do leite envolve três sentidos principais:

O avaliador experiente desenvolve um “nariz treinado” — capaz de detectar variações sutis que o equipamento ainda não mediu.

3️⃣ A sensorialidade como triagem rápida

Mesmo com tecnologias como o crioscópio, acidez titulável e contagem bacteriana, a análise sensorial continua sendo a triagem mais rápida e barata.
Ela permite rejeitar, imediatamente, um leite com odor ácido ou aspecto anormal, poupando custos de armazenamento, refrigeração e análises de laboratório de uma matéria-prima já comprometida.

4️⃣ Relação com o manejo na fazenda

Os defeitos sensoriais não surgem por acaso. Cada um aponta para falhas específicas:

  • Cheiro de silo ou esterco: armazenamento do leite em ambientes contaminados.

  • Odor de ranço: lipólise provocada por agitação excessiva ou refrigeração deficiente.

  • Sabor amargo: presença de antibióticos ou fermentação microbiana.

  • Coágulos: alta acidez e início de coagulação.

Registrar e comunicar esses defeitos ao produtor é parte da gestão da qualidade da captação — evita reincidências e promove educação técnica na base da cadeia.

5️⃣ A análise sensorial como indicador de cultura de qualidade

Quando uma usina mantém a rotina sensorial ativa, está investindo em pessoas e percepção.
Treinar os recepcionistas de leite para reconhecer e registrar cada alteração sensorial cria uma cultura de vigilância contínua.
Essa prática reduz o risco de mistura de lotes fora do padrão, melhora o desempenho nos testes laboratoriais e fortalece a confiança entre fornecedor e indústria.

6️⃣ Padronização e registro: do senso ao sistema

Por mais subjetiva que pareça, a análise sensorial deve ser documentada e padronizada.
Planilhas de inspeção sensorial (visão, odor, cor, aspecto, observações) permitem rastrear tendências e justificar rejeições.
Algumas indústrias adotam notas sensoriais (1 a 5) ou códigos de defeitos, alinhados às normas do RIISPOA (Decreto nº 9.013/2017).

7️⃣ Conclusão: tecnologia começa no olfato

Mesmo em plena era digital, com sensores e análises automatizadas, nenhum instrumento substitui o julgamento humano inicial.
A análise sensorial é o elo entre a experiência prática do campo e a tecnologia industrial.
Um leite com odor e aparência perfeitos dificilmente surpreenderá negativamente no laboratório — e essa é a verdadeira arte de receber leite com qualidade.

🔍 Quer se aprofundar?
Acompanhe mais conteúdos sobre boas práticas na coleta e recepção do leite em:
👉 https://derivandoleite.com.br/category/coleta-e-recepcao/

Foto de Marieli Rosseto

Marieli Rosseto

Doutora e mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos, graduada em Tecnologia de Alimentos e Agronegócio. Especialista em Qualidade, Segurança de Alimentos e Educação Inclusiva, atua como especialista de processos na indústria de soro de leite e professora na área de qualidade no setor lácteo. Na pesquisa, dedica-se ao desenvolvimento de soluções sustentáveis para a indústria de alimentos, como filmes biodegradáveis a partir de resíduos. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8172882358532158

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