Leite e soro de leite em pó retirados pela Anvisa: o que falhou?

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A retirada de leites e soro de leite em pó da marca Natville, determinada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), voltou a acender um alerta antigo no setor: conformidade não é opcional.

Vamos direto ao ponto. O problema aqui não foi contaminação comprovada, mas irregularidade de processo e rotulagem, suficiente para justificar recolhimento preventivo. E isso diz muito sobre como o sistema brasileiro de controle de alimentos funciona — e por que funciona.

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O que aconteceu, de fato

A Anvisa determinou, ainda em 2023, a suspensão e o recolhimento de lotes de:

  • Leite UHT integral

  • Leite UHT desnatado

  • Soro de leite em pó parcialmente desmineralizado

Produzidos pela Laticínios Santa Maria Ltda., comercializados sob a marca Natville.

O ponto crítico:
👉 linhas de produção não registradas no MAPA, apesar de vinculadas a unidades com SIF.

Em bom português técnico:
o produto saiu da fábrica sem respaldo legal completo, o que por si só já invalida sua permanência no mercado.

“Mas tinha SIF no rótulo…” — e aí mora o problema

Aqui entra a parte que o consumidor raramente percebe, mas que qualquer técnico deveria notar de longe.

Os rótulos indicavam:

  • CNPJ: 04.439.268/0003-47

  • SIF: 549

Enquanto a fabricação real ocorreu em:

  • CNPJ: 04.439.268/0001-85

  • SIF: 2669

Isso quebra um dos pilares da segurança de alimentos: rastreabilidade.

Sem rastreabilidade clara:

  • Não se sabe exatamente onde foi produzido

  • Nem em quais condições

  • Nem qual linha ou procedimento foi usado

E aí não existe meio-termo regulatório: retira-se do mercado.

Por que a Anvisa agiu, mesmo sem surto ou dano comprovado?

Porque leite é alimento de alto risco. Simples assim.

A atuação preventiva segue o princípio básico da vigilância sanitária:

na dúvida técnica, protege-se o consumidor.

Foram identificadas:

  • Falhas de higiene

  • Fragilidade nos controles internos de qualidade

  • Inconsistência legal entre registro, produção e rotulagem

Não se espera alguém passar mal para agir. Quem espera, erra.

Anvisa x MAPA: quem faz o quê nesse jogo

Aqui vale reforçar — porque muita gente ainda confunde.

  • Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA)
    Fiscaliza instalações, processos, registros e autocontroles dentro do laticínio.

  • Anvisa
    Atua no produto final, no comércio, no impacto ao consumidor.

Quando os dois convergem, como neste caso, o recado é claro: o sistema funcionou.

E o consumidor, faz o quê?

Nada heroico. Apenas o básico — que, curiosamente, resolve quase tudo:

✔ Conferir lote e data de fabricação
✔ Verificar CNPJ e SIF no rótulo
✔ Acompanhar comunicados oficiais
✔ Guardar nota fiscal (sim, isso ajuda — e muito)

Não é paranoia. É consumo consciente.

O que a indústria precisa aprender (ou reaprender)

Boas práticas que evitam esse tipo de manchete:

  • Programas de Autocontrole vivos, não “de gaveta”

  • Rotulagem alinhada 100% ao registro real

  • Treinamento contínuo de equipes

  • Auditoria interna que incomoda — porque funciona

A indústria láctea brasileira já sabe fazer isso. Quando não faz, escolhe o risco.

Conclusão

O caso Natville é sobre governança, processo e responsabilidade.

A retirada dos produtos mostra que:

  • O sistema regulatório brasileiro atua antes do dano

  • Rótulo não é detalhe — é documento legal

  • Produzir bem não basta: é preciso produzir certo

Quer entender o que realmente está por trás das decisões da Anvisa, sem alarmismo e sem achismo?
No Derivando Leite, a gente traduz notícias em processo, legislação em prática e fiscalização em aprendizado técnico.
Acompanhe, aprenda e decida melhor.

Foto de Marieli Rosseto

Marieli Rosseto

Doutora e mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos, graduada em Tecnologia de Alimentos e Agronegócio. Especialista em Qualidade, Segurança de Alimentos e Educação Inclusiva, atua como especialista de processos na indústria de soro de leite e professora na área de qualidade no setor lácteo. Na pesquisa, dedica-se ao desenvolvimento de soluções sustentáveis para a indústria de alimentos, como filmes biodegradáveis a partir de resíduos. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8172882358532158

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