Manteiga premium: o pequeno luxo que viralizou

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Em meio a um cenário econômico desafiador, um comportamento curioso vem chamando a atenção dos laticinistas: consumidores dispostos a pagar mais por manteiga. Não é qualquer manteiga — são versões premium, fermentadas, artesanais ou com sabores que viralizam nas redes sociais. A aposta das marcas no conceito de “luxo acessível” tem reposicionado a manteiga como um mimo diário, mostrando que o consumidor prioriza um toque de prazer na mesa, mesmo com o orçamento mais justo.

Segundo o portal DairyProcessing.com, marcas têm apostado no conceito de “luxo acessível” (affordable luxury), reposicionando a manteiga como um mimo do dia a dia — uma indulgência possível mesmo quando o orçamento está curto. O fenômeno, que também aparece no Reino Unido segundo The Guardian, mostra que o consumidor está disposto a abrir mão de outros produtos, mas não de um toque de prazer na mesa.

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O conceito de “luxo acessível”

O termo vem sendo usado por marcas de alimentos e cosméticos para descrever produtos que entregam uma experiência sensorial ou emocional superior sem atingir preços proibitivos. No caso da manteiga, isso significa usar ingredientes de alta qualidade, processos tradicionais (como fermentação lenta) e embalagens que comunicam exclusividade.

Nos Estados Unidos, o consumo de butter premium cresceu mesmo com retração geral nos laticínios industrializados. As versões “European Style”, com teor de gordura mais alto (82% ou mais), conquistaram espaço nas padarias artesanais e no café da manhã doméstico.
No Brasil, ainda que esse nicho seja incipiente, marcas regionais começam a explorar o mesmo caminho, apostando em manteigas de terroir, com sal rosa, ervas, ou defumadas.

Sabores virais: quando o TikTok dita o cardápio

Em 2024, o movimento das “Butter Boards” (tábuas de manteiga decoradas com flores, mel e especiarias) viralizou nas redes. A estética e o apelo de compartilhamento transformaram a manteiga em protagonista, não coadjuvante.
De lá pra cá, variações como manteiga com limão siciliano e ervas, ou versões doces com canela e melado, seguem atraindo visualizações — e consumidores.

Mais recentemente, vídeos de manteigas com alho negro ou trufas elevaram o interesse por produtos com perfil gourmet. O impacto digital é direto: supermercados registraram aumento nas vendas de manteigas compostas logo após viralizações no TikTok e Instagram.

Ingredientes e técnicas que definem o “premium”

A qualidade sensorial de uma manteiga depende do tipo de creme usado e do processo de maturação. As manteigas fermentadas, comuns na Europa, apresentam notas ácidas e complexidade aromática devido à ação de culturas lácticas selecionadas.
Já as manteigas clarificadas (ghee) ganham espaço pelo apelo funcional — alto ponto de fumaça, sabor de noz e isenção de lactose.

Do ponto de vista técnico, o diferencial está em:

  • Matéria-prima: creme de leite com alto teor de gordura e baixo teor de proteínas desnaturadas.

  • Processo: batimento controlado e fermentação natural.

  • Controle microbiológico: culturas lácticas específicas e ausência de rancificação.

  • Embalagem e temperatura: refrigerada, com barreira à luz e oxigênio.

Esses fatores garantem maior estabilidade e sabor mais intenso — atributos que justificam o valor agregado.

Desafios regulatórios e oportunidades

No mercado de produtos premium, a inovação precisa coexistir com a estrita conformidade às regras brasileiras, que distinguem claramente manteiga de creme vegetal e misturas lácteas. A Instrução Normativa MAPA nº 68/2006, por exemplo, é a base legal que define a manteiga como um produto exclusivamente derivado do creme pasteurizado de leite, com no mínimo 80% de gordura. Essa exigência diferencia-a de outros produtos que utilizam gorduras vegetais ou soro de leite. Para as marcas que buscam se destacar, o desafio é comunicar com clareza a diferença entre uma “manteiga saborizada” — que mantém a essência láctea — e um “creme composto” — que inclui outros ingredientes, evitando confusão para o consumidor.

Assim, as marcas de alta gama apostam em estratégias como a Indicação Geográfica (IG) para certificar a origem e a qualidade, o storytelling para construir uma narrativa envolvente e a valorização de ingredientes locais. Ao utilizar, por exemplo, sal marinho artesanal ou ervas nativas, não só se eleva a experiência sensorial, mas também se reforça a autenticidade e a exclusividade do produto. Essa abordagem transparente e focada na origem e na história garante que a manteiga premium se posicione como uma experiência gastronômica autêntica em um mercado cada vez mais regulamentado e competitivo.

Como o mercado reage: o caso das “micro-creameries”

Pequenas creameries artesanais têm impulsionado o segmento “butter premium”, apostando em lotes pequenos, rastreabilidade e produção local. Nos EUA e na Europa, cooperativas rurais transformam o excedente de creme em produtos de alto valor agregado, reduzindo perdas e fortalecendo a identidade regional.

No Brasil, cooperativas de Minas Gerais e Rio Grande do Sul já exploram a manteiga fermentada artesanal, enquanto redes gourmet testam sabores “de chef”. A tendência favorece quem investe em origem, narrativa e experiência — três pilares do consumo emocional contemporâneo.

Conclusão

O sucesso das manteigas premium revela uma lição importante: o consumidor moderno busca prazer e significado, não apenas preço. Pequenos luxos, quando autênticos e bem comunicados, ganham espaço até em períodos de retração.

Enquanto outras categorias lutam para manter volumes, a manteiga se reinventa como experiência — e mostra que, no universo lácteo, sabor e emoção ainda são os melhores conservantes.

Quer saber mais sobre o universo da manteiga?

Acompanhe outras curiosidades, bastidores e inovações na categoria Manteiga do Derivando Leite — o espaço onde tradição e tecnologia se encontram no setor lácteo.

Foto de mariana.massari

mariana.massari

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