Como montar a tabela nutricional do seu produto?

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Na rotina de quem trabalha com alimentos, saber montar uma tabela nutricional deixou de ser um diferencial: é uma obrigação. Mais do que preencher números, ela representa um compromisso com a transparência e a segurança do consumidor — e, claro, com a legislação vigente.

Se você atua na cadeia láctea, seja como pequeno produtor artesanal ou em uma indústria consolidada, este guia foi feito para você.

Etapa 1 – Entenda por que a tabela nutricional é obrigatória

A rotulagem nutricional é regulada no Brasil pela RDC nº 429/2020 e pela IN nº 75/2020, ambas da Anvisa. Desde outubro de 2022, os rótulos precisam seguir um novo padrão, mais claro e direto ao consumidor.

A tabela nutricional ajuda a:

  • Informar valores de energia e nutrientes por porção e por 100 g/mL

  • Guiar o consumidor em escolhas mais conscientes

  • Evitar autuações sanitárias e fortalecer a imagem do produto

Se você ainda usa modelos antigos ou incompletos, atenção: já está em não conformidade.

Etapa 2 – Defina a porção padrão do seu produto

Cada categoria de alimento possui uma porção de referência definida pela Anvisa. Você não deve inventar ou estimar livremente.

Exemplos comuns na indústria de laticínios:

  • Leite fluido: 200 mL

  • Bebida láctea: 200 mL

  • Iogurte: 170 g

  • Requeijão cremoso: 30 g

  • Queijos em geral: 30 g

Além da porção, é obrigatória a apresentação por 100 g ou 100 mL para facilitar a comparação entre produtos similares.

Dica prática: se o seu produto é vendido em porções diferentes da referência, a tabela precisa mostrar as duas medidas — por porção e por 100 g/mL.

Etapa 3 – Calcule os valores nutricionais

Aqui você tem dois caminhos possíveis:

Opção 1: Análise laboratorial

Mais confiável, principalmente para produtos com variabilidade natural como queijos, leites fermentados e iogurtes artesanais. É recomendada principalmente quando há:

  • Ingredientes sazonais

  • Variação no tipo de leite (vaca, cabra, A2A2, etc.)

  • Processos de maturação ou fermentação

Opção 2: Cálculo teórico

Feito com base na composição dos ingredientes e uso de tabelas oficiais como:

  • TACO (Tabela Brasileira de Composição de Alimentos – Unicamp)

  • USDA (Departamento de Agricultura dos EUA)

  • Fichas técnicas de fornecedores

Atenção: os dados devem ser representativos do lote e da formulação. Evite estimativas genéricas ou médias que não se aplicam ao seu caso.

Etapa 4 – Preencha a tabela no novo formato exigido

A tabela precisa seguir um layout padronizado, conforme a IN nº 75/2020, com estas regras:

Itens obrigatórios:

  • Valor energético (em kcal e kJ)

  • Carboidratos totais

  • Açúcares totais e adicionados

  • Proteínas

  • Gorduras totais

  • Gorduras saturadas

  • Sódio

Se o produto for fonte de fibra, declare também a fibra alimentar.

Formato gráfico:

  • Fundo branco, letras pretas, sem elementos visuais

  • Tamanho mínimo da letra: 8 pontos

  • Sem bordas decorativas ou cores que dificultem a leitura

  • A tabela deve estar próxima da lista de ingredientes

Etapa 5 – Cuidado com os limites para advertências visuais

A nova rotulagem prevê alertas na frente da embalagem para produtos com excesso de:

  • Açúcares adicionados

  • Gordura saturada

  • Sódio

Esses limites são:

⚠️ Se o produto ultrapassar esses valores, deverá conter selo de advertência visível na parte frontal.

Etapa 6 – Revise o layout final com sua equipe

Antes de imprimir rótulos em escala, reúna os envolvidos:

  • Responsável técnico (nutricionista ou engenheiro de alimentos)

  • Setor de rotulagem/regulatório

  • Marketing (para validar a harmonia com o design)

Erros comuns:

  • Informações inconsistentes com a lista de ingredientes

  • Uso de nomes fantasiosos ou “saudáveis” sem respaldo

  • Declaração de alegações nutricionais sem comprovação

Etapa 7 – Guarde documentos de suporte

Mantenha arquivado:

  • Cálculos de composição

  • Relatórios laboratoriais

  • Fichas técnicas dos insumos

  • Memórias de cálculo

Esses documentos podem ser exigidos durante auditorias internas, inspeções da vigilância sanitária ou em processos de certificação (como orgânico, certificações religiosas e de segurança de alimentos).

Conclusão

Montar uma tabela nutricional de forma correta é mais do que cumprir um protocolo: é garantir que seu produto chegue ao consumidor com transparência, legalidade e credibilidade.

No segmento de laticínios, onde cada grama de gordura ou sódio importa, a tabela nutricional é parte da identidade do produto — e pode até influenciar nas decisões de compra.

Então, na sua indústria, a tabela nutricional é só um detalhe… ou uma ferramenta estratégica?

📌 Quer aprofundar ainda mais?

Depois de montar sua tabela nutricional, o próximo passo é garantir que todo o rótulo do seu produto esteja em conformidade com a legislação e livre de falhas que podem gerar autuações.

👉 Veja este guia completo:
Como rotular corretamente produtos lácteos: da legislação à prática

🚨 E evite os deslizes mais comuns com este checklist:
Erros frequentes em rótulos de laticínios (e como não cometê-los)

Seu produto pode ser excelente, mas a embalagem também precisa comunicar isso com clareza, segurança e profissionalismo.

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mariana.massari

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