A influência do pH sobre processos lácteos

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Você já parou para pensar que um simples número pode transformar completamente o destino do leite durante o processamento? Esse número é o pH — uma variável bioquímica que influencia desde a estabilidade microbiológica até a textura de queijos e a eficiência da secagem em leite em pó.

Neste artigo, vamos explicar, de forma clara e técnica, como o pH atua em diferentes etapas da cadeia produtiva, os riscos associados ao seu descontrole e as práticas recomendadas para o monitoramento eficaz.

O que é o pH do leite?

O pH é uma medida que expressa a acidez ou alcalinidade de uma solução. O leite fresco possui, normalmente, pH entre 6,6 e 6,8, levemente ácido, resultado do equilíbrio entre componentes como sais minerais, proteínas e ácidos orgânicos.

A determinação do pH é uma das análises físico-químicas básicas para garantir a qualidade e segurança do leite. A avaliação periódica desse parâmetro é imprescindível para atender aos critérios legais e técnicos da indústria.

Confira outras informações sobre as análises físico-químicas exigidas para o leite, incluindo pH, densidade e acidez, no artigo do Derivando Leite:
🔗 Análises físico-químicas do leite: guia completo

Impactos do pH no processamento do leite

1. Pasteurização e segurança microbiológica

O pH interfere diretamente na termorresistência de microrganismos. Quanto mais ácido, menor a resistência de bactérias patogênicas, favorecendo a eficiência da pasteurização. Contudo, um pH muito baixo pode gerar coagulação indesejada durante o aquecimento, prejudicando a fluidez do produto.

✅ Recomenda-se monitorar o pH antes da pasteurização, especialmente em leite cru com sinais de acidificação, para evitar falhas na segurança ou perda de rendimento.

2. Coagulação na fabricação de queijos

A formação do coágulo, etapa fundamental na produção de queijos, depende diretamente do pH do leite. Para que as enzimas coagulantes — como a renina ou quimosina — atuem de forma eficaz, é necessária uma redução controlada do pH, geralmente para valores entre 6,0 e 5,2.

Veja como o pH influencia a formação da coalhada:

  • pH acima de 6,5 → forma-se um coágulo frágil, pouco consistente e com maior propensão a perdas de sólidos.

  • pH entre 5,8 e 6,0 → faixa ideal para uma coalhada firme, bem estruturada e com bom rendimento.

  • pH abaixo de 5,2 → ocorre a coagulação ácida espontânea, típica de queijos como Minas Frescal e ricota, que dispensam o uso de enzimas coagulantes.

Atenção: O ajuste e o controle precisos do pH são indispensáveis para padronizar a textura, otimizar o rendimento e garantir a qualidade final do queijo.

3. Secagem e fabricação de leite em pó

O pH influencia a estabilidade proteica durante a concentração e a secagem por spray dryer. Em pH próximo ao ponto isoelétrico das caseínas (4,6), ocorre precipitação e agregação, o que pode provocar obstrução de equipamentos e formação de grumos.

A manutenção do pH adequado é essencial para evitar complicações tecnológicas e garantir qualidade superior do leite em pó.

Recomendação: Trabalhar com pH estabilizado entre 6,5 e 6,8 na concentração e secagem evita problemas operacionais e melhora a solubilidade do pó.

4. Vida de prateleira e estabilidade do produto

A acidez impacta na atividade microbiológica e, consequentemente, na vida de prateleira de produtos lácteos. Leite com pH fora do padrão tende a deteriorar-se mais rapidamente, favorecendo o desenvolvimento de microrganismos acidófilos.

Além disso, variações bruscas de pH podem causar sinérese (liberação de soro) em produtos fermentados e afetar características sensoriais como sabor e textura.

Como monitorar e ajustar o pH na indústria láctea?

O controle rigoroso do pH é prática essencial em todas as etapas industriais. Os principais métodos incluem:

  • Potenciometria: método padrão para determinação precisa e aceitável frente fiscalização.

  • Indicadores colorimétricos: para avaliações rápidas em campo.

  • Boas práticas: monitoramento contínuo, calibração frequente dos instrumentos e treinamento das equipes operacionais.

Conclusão

O pH do leite é muito mais do que um simples número: é um parâmetro-chave que define a qualidade, segurança e eficiência do processamento.

Profissionais atentos ao pH garantem produtos mais seguros, com maior rendimento e qualidade sensorial superior. E na sua indústria, o controle do pH está sendo realizado de forma eficiente?

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mariana.massari

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