Efluente de laticínio não é água suja, é BO

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Este é o primeiro artigo do Derivando Leite sobre tratamento de efluentes, e ele tem um objetivo claro: introduzir você nas principais normas aplicáveis à indústria láctea e mostrar o que realmente deve ser observado para não transformar um resíduo líquido em um problemão ambiental.

Efluente de laticínio é coisa séria. Ele carrega gordura, lactose, proteína, ácidos e uma carga orgânica tão alta que, se descartado sem tratamento adequado, pode gerar odores desagradáveis, desequilíbrio ambiental e, o pior: multas severas, interdições e até responsabilização criminal.

Muita gente ainda trata como se fosse “água suja”, mas, na prática, é uma mistura complexa e altamente poluente — um verdadeiro BO químico e biológico. A legislação brasileira, inclusive, é clara e rigorosa sobre o que pode (e não pode) sair do seu laticínio em direção ao meio ambiente.

As normas que você precisa dominar (ou pelo menos entender)

Mesmo que o tratamento de efluentes seja terceirizado ou acompanhado por engenheiros ambientais, é fundamental que o gestor ou responsável da indústria conheça as quatro principais normas que regem esse processo. Elas definem limites, responsabilidades e até consequências legais.

CONAMA 430/2011  A régua da fiscalização ambiental

Essa é a principal norma brasileira que define os limites que o efluente deve ter para ser descartado no meio ambiente (rios, córregos, lagoas etc.). Ela diz, por exemplo:

  • Qual o pH permitido da água descartada;
  • O quanto de gordura e matéria orgânica pode ter no efluente (limite de DBO, DQO, óleos);
  • E exige que a empresa tenha licença ambiental válida para fazer esse descarte.

Se sua empresa lança efluente sem saber se está dentro desses limites, está em risco.

Lei 9.605/1998 – (Lei de Crimes Ambientais) – Aqui o papo é sério: pode dar cadeia

Essa lei trata dos crimes cometidos contra o meio ambiente. Se o laticínio lança efluente contaminado, com risco à saúde pública ou à fauna aquática, o responsável legal (como o gerente ou o dono) pode:

  • Receber multas altíssimas;

  • Ter a planta interditada;

  • E, em casos graves, até responder criminalmente.

 “Ah, mas foi sem querer.” Não importa. A lei considera omissão ou negligência também.

ABNT NBR 9800:1987Como saber o que tem no seu efluente

Essa norma da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) é usada para analisar o efluente em laboratório. Ela define como medir pH, DBO, óleos e outras substâncias para que os laudos fiquem padronizados e confiáveis.

Ou seja, quando seu efluente vai para análise, é essa norma que guia os métodos.

ISO 14001 – A norma que mostra que sua empresa cuida do planeta

Diferente das outras, a ISO 14001 não é obrigatória por lei, mas quem tem essa certificação mostra que está comprometido com:

  • Redução de impactos ambientais;

  • Cumprimento da legislação;

  • Monitoramento e melhoria contínua dos processos.

Para exportar, participar de licitações ou atrair grandes clientes, essa norma pesa muito positivamente.

Afinal, o que tem no efluente de um laticínio?

O efluente gerado por uma planta de laticínios não é só “água suja”. Ele pode conter:

  • Gorduras e proteínas dos produtos processados;

  • Lactose e resíduos da higienização de tanques e linhas;

  • Detergentes alcalinos, ácidos e sanitizantes usados no CIP.

Essa mistura eleva significativamente a DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio), ou seja, o potencial de esgotar o oxigênio da água de rios e lagos — matando peixes, microrganismos e afetando todo o ecossistema.

Etapas do tratamento: flexível, mas com um fim comum

O caminho para um efluente tratado pode variar conforme o porte da empresa, a tecnologia disponível e a estratégia adotada. Não há uma única receita, mas o resultado precisa ser sempre o mesmo: efluente tratado dentro dos limites legais.

Veja a estrutura padrão:

Etapas do tratamento de efluentes na indústria láctea

O uso de reatores UASB, lodos ativados ou membranas pode variar — o importante é garantir que o efluente final atenda aos parâmetros exigidos.

O que acontece se a empresa não tratar corretamente?

Se os parâmetros não forem atendidos, o risco é real — e imediato:

  • Multas ambientais que podem ultrapassar R$ 50 mil por dia;
  • Suspensão da licença ambiental e interdição da planta;
  • Responsabilização criminal dos gestores da empresa, conforme a Lei 9.605/98.

Empresas que implementam programas de gestão ambiental, como os da ISO 14001, têm mais controle, menos surpresas e maior chance de sair na frente — em sustentabilidade e em negócios.

Conclusão

Tratar efluentes não é só cumprir tabela ou evitar multas. É garantir a reputação da sua marca, respeitar o meio ambiente e tornar a operação mais segura e sustentável.

O que sai da sua planta pode voltar — e não é só em forma de água limpa, mas também de oportunidades ou de problemas.

Foto de Marieli Rosseto

Marieli Rosseto

Doutora e mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos, graduada em Tecnologia de Alimentos e Agronegócio. Especialista em Qualidade, Segurança de Alimentos e Educação Inclusiva, atua como especialista de processos na indústria de soro de leite e professora na área de qualidade no setor lácteo. Na pesquisa, dedica-se ao desenvolvimento de soluções sustentáveis para a indústria de alimentos, como filmes biodegradáveis a partir de resíduos. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8172882358532158

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