A expressão “armas e manteiga” sempre simbolizou a escolha entre gastar recursos em defesa ou em bem-estar social. Mas, na Rússia atual, os dois caminham lado a lado. Em meio à economia de guerra, a manteiga deixou de ser apenas um alimento básico para se tornar símbolo da luta pela autossuficiência.
O Financial Times, traz essa abordagem para discussão.
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Com preços em alta, roubos registrados em supermercados e apoio massivo do Estado, a manteiga russa virou termômetro das tensões que atravessam a indústria de laticínios e, ao mesmo tempo, pilar da política de estabilidade doméstica.
1. Manteiga como alimento estratégico
O governo russo considera a manteiga um produto socialmente sensível. Em tempos de inflação, manter seu preço acessível é prioridade. Só em 2024, os preços do leite cru subiram 30%, pressionando a produção de manteiga e levando Moscou a cogitar uma proibição temporária de exportações.
Esse movimento revela o valor estratégico da manteiga: ela não é apenas produto de consumo, mas também peça da segurança alimentar nacional.
2. Subsídios e controle de mercado
Para segurar preços, o Ministério da Agricultura injeta bilhões de rublos no setor. Entre 2024 e 2025, cerca de R$ 1,24 trilhão em investimentos foram reservados para o agroindustrial, com parte relevante voltada a produtores de leite e derivados como manteiga.
Além disso, há coordenação entre governo e indústrias para ajustar oferta e demanda, evitando desabastecimento e oscilações extremas de preço.
3. O impacto da saída de multinacionais
Gigantes como Danone e PepsiCo reduziram operações no país, abrindo espaço para players locais. A EkoNiva, hoje maior produtora de leite cru da Rússia, registrou 80% de crescimento em receita desde 2021 e avançou no mercado de manteiga.
Com rivais estrangeiros em retração, empresas nacionais passaram a dominar gôndolas e contratos, reforçando a lógica de autossuficiência.
4. Manteiga e o mercado internacional
O excedente que não vai para o consumo interno começa a mirar a Ásia. A Rússia abriu canais com a China, aproveitando a vantagem logística ferroviária. A manteiga, junto a outros derivados, faz parte do pacote de exportações agrícolas que sustentam a narrativa de Moscou de “cooperação com países amigos”.
5. Contradições: produto abundante, mas disputado
Apesar da expansão produtiva, a manteiga continua alvo de tensão. A produção não acompanha totalmente a demanda, e os preços ainda são considerados altos pelo consumidor russo médio. Em casos extremos, lotes do produto foram furtados em grandes quantidades de supermercados — sinal da fragilidade do equilíbrio entre oferta, demanda e preço.
Conclusão
A manteiga russa é hoje muito mais que um alimento. Ela sintetiza as contradições da economia de guerra: ao mesmo tempo sustentada por subsídios estatais e afetada por inflação e sanções.
Seja como símbolo de segurança alimentar ou como item disputado nas prateleiras, a manteiga mostra que, na Rússia, o dilema de “armas e manteiga” ganha novos contornos — e ambos seguem sendo prioridade.
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