Poucos ingredientes da indústria alimentícia são tão controversos quanto o óleo de palma. Presente em quase 50% dos itens de supermercado, seu cultivo está associado ao desmatamento tropical, ameaças à biodiversidade e emissão de gases de efeito estufa. No entanto, uma startup holandesa, a NoPalm Ingredients, aposta em um caminho radicalmente diferente: usar o permeado de soro de leite como matéria-prima para criar óleos sustentáveis por fermentação.
Essa iniciativa, em parceria com a gigante de laticínios Milcobel, não apenas cria valor para um resíduo abundante, mas também oferece um substituto direto ao óleo de palma sem exigir reformulação das receitas industriais. Um verdadeiro exemplo de circularidade aplicada ao setor lácteo.
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O desafio do óleo de palma
A produção mundial de óleo de palma cresceu dez vezes desde 1980. Além do impacto ambiental direto, há a pressão regulatória: a União Europeia implementará em dezembro o Regulamento de Desmatamento, que proíbe a entrada de óleo de palma associado a desmatamento em seu mercado. Isso cria espaço para alternativas seguras, rastreáveis e sustentáveis.
O modelo de colocation: fechar o ciclo no local
Segundo Lars Langhout, CEO da NoPalm Ingredients, o diferencial está no modelo de colocation: instalar as unidades de fermentação diretamente nas plantas lácteas, aproveitando a infraestrutura existente, reduzindo transporte e custos energéticos.
A Milcobel, com sede na Bélgica, já havia valorizado proteínas do soro em parceria com a Arla Foods Ingredients. Agora, com a NoPalm, leva a circularidade ao próximo nível. O plano é instalar, até 2028, uma fábrica comercial no site de Langemark, com capacidade para 6.000 a 7.000 toneladas/ano de óleo microbiano.
Da planta de demonstração à escala industrial
Antes da escala total, a NoPalm abriu uma planta de demonstração em parceria com a Nizo Food Research, em Ede (Holanda). Essa unidade deve atingir capacidade de 1.200 toneladas/ano em dois anos, utilizando o permeado fornecido pela Milcobel.
Essa fase é crucial: comprovar a viabilidade tecnológica e a tração de mercado antes da inauguração da primeira planta comercial.
Impacto ambiental e aplicações do Revóleo
O portfólio da NoPalm, vendido sob a marca Revóleo, oferece alternativas diretas ao óleo de palma:
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Revóleo Soft – óleo semissólido que substitui óleo de palma, manteiga de cacau ou gordura do leite em confeitaria, panificação e alternativas vegetais.
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Revóleo Silk – manteiga macia voltada ao setor cosmético, como condicionadores, batons e sabonetes.
Os benefícios ambientais são expressivos: até 90% menos emissões de gases de efeito estufa e 99% menos uso de terra em comparação ao óleo de palma tradicional.
Uma estratégia alinhada à circularidade
Para Francis Relaes, diretor da Milcobel Premium Ingredients, a iniciativa “fecha o ciclo” da valorização do soro, transformando um resíduo em ingrediente premium. Essa lógica fortalece a economia circular e atende consumidores cada vez mais atentos à origem dos produtos.
Conclusão
O caso NoPalm + Milcobel mostra como fermentação e circularidade podem transformar um subproduto abundante da indústria láctea em uma alternativa estratégica ao óleo de palma. Se os planos se concretizarem, veremos até 2028 um dos exemplos mais emblemáticos de como a inovação no setor de laticínios pode impactar a indústria global de óleos e gorduras.
Confira artigo completo, escrito por Anay Mridul aqui
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