Reduzir as emissões de metano na pecuária leiteira deixou de ser apenas um desafio ambiental: tornou-se uma condição estratégica para o futuro da indústria. O gás, com poder de aquecimento global 84 vezes superior ao dióxido de carbono em 20 anos, coloca o setor no centro das discussões climáticas globais. Até hoje, nenhuma solução havia se mostrado capaz de eliminar efetivamente essas emissões em escala comercial. Isso mudou com os resultados obtidos pela Ambient Carbon, que acaba de validar seu Sistema Fotoquímico de Erradicação de Metano (MEPS) em condições reais de produção leiteira.
O avanço da Ambient Carbon
A validação ocorreu em uma fazenda na Dinamarca, onde um módulo do MEPS, instalado em um contêiner marítimo padrão, processou o ar de um estábulo com 250 vacas. O resultado surpreendeu: até 90% do metano foi eliminado em concentrações que variaram entre 4,3 e 44 ppm. Diferente de tecnologias experimentais que ficam restritas a protótipos de laboratório, o MEPS provou ser escalável e comercialmente viável, o que pode redefinir o padrão de sustentabilidade no setor.
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Como funciona o MEPS
O sistema utiliza um processo patenteado em fase gasosa baseado em radicais de cloro ativados por matrizes de LED UV. Essa reação fotoquímica decompõe o metano em produtos mais simples, transformando o ar de exaustão do estábulo em vapor de água estéril. Além de reduzir o metano, o sistema remove amônia e odores, gerando fertilizante como subproduto. Trata-se de uma solução circular que une eficiência ambiental e benefício econômico para os produtores.
O papel dos parceiros globais
O projeto contou com apoio da Danone North America, além de universidades da Dinamarca e da Fundação Hofmansgave. A participação de grandes players do setor evidencia como a pressão por descarbonização da cadeia leiteira vem crescendo. Não se trata mais de iniciativas isoladas, mas de estratégias conjuntas que envolvem indústria, pesquisa e investimento privado.
Implicações para o setor de laticínios
O impacto potencial dessa tecnologia é profundo. Segundo estimativas da ONU, cerca de 30% das emissões antropogênicas globais de metano têm origem na pecuária, sendo metade relacionada ao gado leiteiro. A adoção de sistemas como o MEPS pode colocar a indústria em um caminho mais rápido rumo à meta de emissões líquidas zero, atendendo às exigências de sustentabilidade de consumidores, investidores e mercados importadores.
Barreiras e oportunidades
Apesar dos resultados promissores, alguns desafios precisam ser considerados antes da adoção em larga escala. Custos de instalação, adaptação a diferentes tipos de fazenda e manutenção da tecnologia são pontos que ainda exigem análise. Por outro lado, o design modular amplia a versatilidade do sistema, permitindo que propriedades de diferentes portes possam se beneficiar. Além disso, o subproduto fertilizante gera retorno econômico adicional, reduzindo custos de insumos.
O que muda para o Brasil?
No contexto brasileiro, onde a produção leiteira está entre as maiores do mundo, tecnologias como essa podem representar um divisor de águas. O país enfrenta pressão crescente em fóruns internacionais de clima, e a implementação de sistemas de mitigação de metano pode abrir portas para certificações ambientais, diferenciação de mercado e acesso a consumidores dispostos a pagar por produtos com menor pegada de carbono. Iniciativas semelhantes já são discutidas em temas de sustentabilidade do setor lácteo, reforçando a urgência da transição.
Conclusão
A validação do sistema MEPS marca um antes e depois na história da pecuária leiteira. Pela primeira vez, uma tecnologia demonstrou em escala real a capacidade de praticamente eliminar o metano emitido em estábulos. Embora desafios de custo e adaptação ainda existam, o potencial é inegável. O setor de laticínios, frequentemente apontado como vilão ambiental, agora enxerga a possibilidade de se tornar referência em inovação sustentável. A pergunta que resta é: o Brasil está preparado para liderar essa transformação?