Textura no iogurte grego: como alcançar a cremosidade ideal

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Textura é a percepção sensorial relacionada ao comportamento físico do alimento na boca — como cremosidade, espessura, suavidade ou aspereza. No caso do iogurte grego, a textura representa um atributo premium essencial, impactando diretamente a percepção de qualidade e a fidelização do consumidor.

Problemas comuns:

Esses defeitos não só afetam a percepção sensorial, mas também comprometem a confiança do consumidor na marca.

Reologia: como a ciência mede a textura

A reologia estuda o escoamento e a deformação dos materiais. Em alimentos como o iogurte grego, é uma ferramenta indispensável para quantificar propriedades físicas que determinam a textura final.

Parâmetros reológicos essenciais:

  • Viscosidade aparente: Avalia a resistência ao escoamento. Iogurtes mais viscosos tendem a ser mais cremosos.

  • Módulos G’ (elástico) e G” (viscoso): São parâmetros reológicos que indicam o comportamento viscoelástico do iogurte, revelando se ele se comporta mais como um sólido ou um líquido. O G’ representa a energia armazenada durante a deformação, ou seja, a firmeza e estrutura do gel — quanto maior o G’, mais sólido e estável é o produto. Já o G” mede a energia dissipada como calor, refletindo a fluidez do material — quanto maior o G”, mais o iogurte se comporta como líquido. Em iogurtes gregos de boa qualidade, o ideal é que G’ seja maior que G”, o que indica uma textura firme, cremosa e com baixa sinérese

  • Tensão de escoamento: Valor mínimo de força necessário para o iogurte começar a fluir.

Métodos para medir a textura do iogurte grego

Métodos instrumentais

Métodos sensoriais

Painéis treinados avaliam atributos como cremosidade, coesão, espalhabilidade, sinérese e presença de grumos, utilizando escalas estruturadas.

Boas práticas para controle de textura no iogurte grego

  1. Padronização da matéria-prima:
    O teor de caseína e sólidos totais é determinante para a estrutura do gel. Uso de leite concentrado por ultrafiltração ou caseína micelar melhora a textura e reduz sinérese.

  2. Fermentação controlada:
    Tempos excessivos resultam em gel frágil, e fermentações muito curtas não permitem a formação adequada da rede proteica.

  3. Estabilizantes naturais:
    Goma xantana e guar são eficazes na redução da sinérese e melhora da viscosidade, com melhor desempenho quando adicionadas após a fermentação.

  4. Agitação pós-fermentação suave:
    Evita a quebra da rede proteica, mantendo a cremosidade e reduzindo sinérese.

  5. Refrigeração e armazenamento:
    Temperaturas entre 1–4°C são ideais para preservar a estrutura do gel e evitar separação de soro.

Inovações e métodos alternativos

  • Ultrassonografia e imageamento óptico:  são métodos não destrutivos utilizados para analisar a microestrutura interna do gel de iogurte, permitindo visualizar agregados proteicos, poros e homogeneidade da rede sem comprometer a integridade do produto. Essas técnicas são fundamentais para monitorar mudanças estruturais durante o processamento e o armazenamento, além de auxiliar no controle de qualidade

  • ImageJ e visão computacional: permitem quantificar parâmetros como porosidade, distribuição de partículas e tamanho de microgéis por meio de imagens microscópicas digitalizadas, correlacionando de forma objetiva a aparência visual com propriedades reológicas como viscosidade e consistência.

  • Microbolhas: representam uma inovação tecnológica aplicada diretamente ao processo de formulação e homogeneização do iogurte. Ao serem incorporadas durante o processamento, essas microestruturas de gás alteram favoravelmente a microestrutura do gel, promovendo maior uniformidade, retenção de água e estabilidade, o que resulta em iogurtes com melhor textura, menor sinérese e maior cremosidade. Além disso, tratam-se de tecnologias de baixo custo e fácil integração às linhas industriais existentes, oferecendo uma solução prática e eficiente para a melhoria da qualidade sensorial e funcional de iogurtes gregos

Conclusão

A textura do iogurte grego vai além de uma simples percepção sensorial — ela é um indicativo direto da qualidade físico-química, estabilidade e aceitação do produto pelo consumidor. Medir, entender e controlar essa característica exige a aplicação de conceitos reológicos, análise microestrutural e práticas industriais bem definidas. A integração de tecnologias como ultrassonografia, visão computacional e sistemas inovadores como microbolhas permite transformar um atributo subjetivo em um parâmetro mensurável e gerenciável.

Na sua indústria, a textura ainda é apenas percebida… ou já está sendo estrategicamente medida?

Referências complementares:
Textura e viscosidade em lácteos – Derivando Leite
Como fazer iogurte industrial em casa – Derivando Leite

Foto de Marieli Rosseto

Marieli Rosseto

Doutora e mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos, graduada em Tecnologia de Alimentos e Agronegócio. Especialista em Qualidade, Segurança de Alimentos e Educação Inclusiva, atua como especialista de processos na indústria de soro de leite e professora na área de qualidade no setor lácteo. Na pesquisa, dedica-se ao desenvolvimento de soluções sustentáveis para a indústria de alimentos, como filmes biodegradáveis a partir de resíduos. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8172882358532158

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