A sustentabilidade na indústria alimentícia não é mais uma escolha estratégica. É uma urgência. O artigo de Prasanna, Verma e Bodh (2025), publicado na Environment, Development and Sustainability, traça uma revisão global sobre o papel das indústrias de alimentos na transição para modelos sustentáveis. O texto destaca a urgência de transformar processos industriais para enfrentar as mudanças climáticas, a escassez de recursos e a crescente exigência de consumidores por práticas éticas e responsáveis. Mas como isso se traduz na rotina de uma planta de laticínios brasileira?
Neste artigo, tomamos os principais pontos levantados pela revisão internacional e aplicamos diretamente à realidade da indústria de laticínios — onde consumo energético elevado, geração de efluentes com carga orgânica alta e uso intensivo de água são desafios cotidianos.
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O que o artigo revela: desafios e caminhos possíveis
O estudo revisado destaca que o setor alimentício está no centro das discussões sobre sustentabilidade por ser, ao mesmo tempo, causa e solução para impactos ambientais significativos. Na indústria de laticínios, isso se traduz em três grandes frentes: mitigação de gases de efeito estufa (GEE), redução do uso de recursos naturais (especialmente água e energia) e gestão responsável dos resíduos e efluentes.
O artigo também evidencia como princípios da economia circular podem ser aplicados à cadeia de alimentos — incluindo a valorização de subprodutos lácteos, e o reaproveitamento de resíduos industriais. A proposta é deixar de tratar resíduos como passivo e começar a vê-los como insumos para novos processos.
Avaliando o contexto históricos da indústria de laticínios, o soro de leite é um exemplo disso!
Tripé da sustentabilidade e sua tradução para os laticínios
Prasanna et al. (2025) reforçam que o verdadeiro avanço sustentável depende de um equilíbrio entre três pilares: ambiental, econômico e social. Para os laticínios, isso pode significar:
- Ambiental: uso eficiente de água em CIP, controle rigoroso da carga orgânica nos efluentes, energia limpa e uso de sensores inteligentes na ETE;
- Econômico: redução de perdas e desperdícios, otimização de recursos e valorização de subprodutos;
- Social: boas condições de trabalho, respeito às comunidades do entorno e participação ativa dos colaboradores na cultura de sustentabilidade.
O artigo também aponta que os consumidores estão mais atentos e exigem alimentos produzidos com responsabilidade. Isso pressiona as empresas a ampliarem seus sistemas de rastreabilidade e a adotarem certificações reconhecidas, como ISO 14001 e selos de baixo impacto ambiental.
Efluentes: vilão ou oportunidade?
O estudo evidencia que um dos pontos críticos é o tratamento de efluentes. A carga orgânica elevada típica da indústria láctea exige ETEs robustas, bem projetadas e monitoradas. Prasanna et al. mostram que muitas indústrias estão adotando tecnologias como sensores de DQO e pH em tempo real, flotação avançada, digestão anaeróbica e reúso de água.
Essas tecnologias, aliadas à gestão por indicadores ambientais, reduzem a pressão sobre os recursos hídricos e evitam autuações. O manejo eficiente dos efluentes transforma o setor lácteo de vilão ambiental a agente de mudança.
Conclusão: rumo a uma indústria láctea sustentável
O estudo de Prasanna et al. (2025) é um alerta global — mas também um roteiro técnico para orientar a transição ecológica da indústria. Os dados e exemplos reunidos oferecem subsídios para o setor lácteo aplicar, com coerência e viabilidade, os princípios da sustentabilidade.
No Brasil, onde a produção leiteira é relevante e diversa, adotar estratégias sustentáveis não é mais uma questão de diferenciação — é uma exigência para quem deseja acesso a novos mercados, redução de custos operacionais e, sobretudo, compromisso com o futuro do planeta.
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