Baixos níveis de minerais estão afetando seu rebanho leiteiro?

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Você pode ajustar proteína, energia e fibra da dieta com precisão — mas e os minerais do seu rebanho?
Esses micronutrientes, como cobre (Cu), zinco (Zn), selênio (Se) e manganês (Mn), representam menos de 0,01% do peso corporal da vaca, porém regulam funções vitais: imunidade, reprodução, crescimento de tecidos e produção de leite.

Em sistemas intensivos, a ideia de deficiência mineral parece improvável. Afinal, há ração balanceada, pré-misturas comerciais e acompanhamento técnico.
Mas estudos recentes mostram que as deficiências subclínicas — aquelas sem sintomas visíveis — podem estar presentes mesmo em vacas de alta produção, prejudicando fertilidade, resposta vacinal e qualidade do leite.

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Um levantamento norte-americano com 1.495 amostras de fígado de bovinos revelou que 45% das vacas leiteiras tinham deficiência de pelo menos um traço de mineral, apesar da suplementação habitual .
Esses dados acendem um alerta: será que as vacas do seu rebanho estão recebendo, absorvendo e utilizando adequadamente esses micronutrientes essenciais?

O papel dos  minerais na vaca leiteira

Os  minerais participam de centenas de reações metabólicas e atuam como cofatores enzimáticos, antioxidantes e reguladores fisiológicos.

Esses minerais trabalham em sinergia — a deficiência de um pode comprometer a função dos demais.
Por exemplo, o cobre e o selênio são cofatores de enzimas antioxidantes que controlam o estresse oxidativo no período de transição, quando a vaca enfrenta alta carga metabólica.

O que dizem os estudos recentes

Da pesquisa americana ao contexto leiteiro

O estudo de Schaeffer et al. (2025) mostrou que, mesmo em vacas leiteiras com dieta controlada, as deficiências subclínicas de cobre, selênio e manganês ainda são comuns.
A explicação está na absorção variável, nos antagonismos minerais (excesso de enxofre e molibdênio) e na diferença individual de consumo.

Período de transição: o ponto crítico

O período de três semanas antes e após o parto é o mais sensível para deficiências de traços de minerais.
Um estudo brasileiro da Universidade de São Paulo avaliou vacas de transição com dietas contendo níveis reduzidos de minerais inorgânicos substituídos por fontes proteinadas (orgânicas). Os resultados mostraram melhor resposta imune, menor inflamação e manutenção da produção de leite, reforçando que biodisponibilidade é tão importante quanto quantidade (da Silva et al., 2023).

Reprodução e imunidade sob influência mineral

A deficiência de cobre e selênio reduz taxas de prenhez e aumenta a retenção de placenta (Palomares, 2024).
Já o zinco melhora a integridade da glândula mamária e reduz casos de mastite (Overton & Yasui, 2014).

Por que as deficiências acontecem mesmo com suplementação?

  • Antagonismos minerais:
    Excesso de enxofre (S), ferro (Fe) e molibdênio (Mo) forma complexos que bloqueiam absorção de cobre.

  • Variação individual no consumo:
    Mesmo com ração total misturada, vacas podem variar até 20% na ingestão de suplemento.

  • Fontes de baixa biodisponibilidade:
    Sais inorgânicos (óxidos, sulfatos) têm absorção menor que proteinatos e quelatos.

  • Altas exigências fisiológicas:
    Vacas em pico de lactação ou sob estresse oxidativo demandam mais micronutrientes.

  • Interação com forragens tropicais:
    Pastagens brasileiras são pobres em zinco e cobre — correções regionais são essenciais.

Estratégias de manejo e suplementação

1. Diagnosticar antes de corrigir

Cada fazenda tem perfil mineral próprio — analise forragem, ração e água.

2. Investir em biodisponibilidade

Fontes orgânicas (proteinatos, quelatos) são mais bem absorvidas e reduzem perdas ambientais.

 3. Suplementação estratégica

  • Pré-parto: cobre, zinco e selênio são fundamentais para vitalidade do bezerro.

  • Pós-parto: reposição de minerais auxilia na recuperação uterina e imunidade.

  • Pico de lactação: foco em zinco e manganês para qualidade do leite.

 4. Monitorar resposta

Compare produção, CCS e fertilidade antes e depois do ajuste mineral.

Conclusão

Os traços de minerais podem parecer um detalhe da nutrição bovina — mas detalhes que custam caro.
Deficiências sutis de cobre, zinco ou selênio afetam imunidade, fertilidade e qualidade do leite, mesmo em rebanhos tecnificados.

O segredo está em monitorar continuamente e ajustar as fontes com base em evidências, garantindo que cada vaca receba o que precisa, nem mais nem menos.
Cuidar desses micronutrientes é investir na longevidade e no equilíbrio produtivo do rebanho leiteiro.

Quer entender mais sobre como a nutrição impacta o comportamento, a saúde e a produtividade do rebanho?
Acompanhe os próximos artigos da categoria Nutrição Animal e Manejo e mantenha seu rebanho sempre no ponto ideal de desempenho.

Foto de Marcos Nazareth

Marcos Nazareth

Mestrando, Professor de química pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e técnico em Laticínios pelo Instituto Laticínios Cândido Tostes. Entusiasta da internet e informação. Gerente Industrial | Empreendedor | Investidor

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