Pasteurização: História, Técnicas e Importância

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História da Pasteurização

Desenvolvida em 1864 por Louis Pasteur, a pasteurização revolucionou a segurança dos alimentos ao eliminar e/ou reduzir microrganismos nocivos por meio do aquecimento controlado. Inicialmente aplicada ao vinho e à cerveja para evitar perdas econômicas, a técnica foi posteriormente adaptada ao leite, contribuindo para a redução de doenças graves como tuberculose e febre tifoide. No início do século XX, consolidou-se como um pilar da saúde pública e, atualmente, continua essencial na conservação de alimentos.

Como Funciona a Pasteurização?

A pasteurização consiste no uso de calor em temperaturas e tempos controlados para eliminar patógenos, como bactérias, leveduras e bolores, sem comprometer a qualidade sensorial dos alimentos. O calor desnatura proteínas e enzimas essenciais à sobrevivência microbiana, danificando membranas celulares e destruindo patógenos.

Por exemplo, para eliminar Mycobacterium bovis, a pasteurização lenta (63°C por 30 minutos) ou rápida (72°C por 15 segundos) é suficiente. No entanto, esporos bacterianos altamente resistentes, como os de Clostridium botulinum, não são inativados pelo processo.

Principais Métodos de Pasteurização

Existem diversos métodos de pasteurização, cada um adequado a tipos específicos de alimentos e objetivos de processamento:

  • Pasteurização Lenta 

    • Temperatura: 63°C a 65°C
    • Tempo: 30 minutos
    • Aplicação: Utilizada para produtos sensíveis que requerem a preservação de sabor e textura, como alguns laticínios artesanais.
  • Pasteurização Rápida

    • Temperatura: 72°C a 75°C
    • Tempo: 15 a 20 segundos
    • Aplicação: Comum na pasteurização de leite e sucos, devido à sua eficiência em grandes volumes e preservação de qualidade.
  • Pasteurização Ultra-Alta Temperatura (UHT – Ultra High Temperature)

    • Temperatura: 135°C a 140°C
    • Tempo: 2 a 5 segundos
    • Aplicação: Proporciona longa vida útil a produtos como leite UHT, permitindo armazenamento sem refrigeração.

Tipos de Pasteurizadores

A escolha do equipamento de pasteurização depende das características do produto e do método aplicado:

  1. Pasteurizadores de Placas

    • Descrição: Compostos por placas metálicas que permitem a transferência eficiente de calor.
    • Aplicação: Indicados para líquidos de baixa viscosidade, como leite e sucos.

  1. Pasteurizadores Tubulares

    • Descrição: Utilizam tubos para o fluxo do produto, permitindo aquecimento uniforme.
    • Aplicação: Adequados para produtos mais viscosos, como iogurtes, leite concentrado e polpas de frutas.

Influência da Composição do Produto na Pasteurização

A eficácia da pasteurização é influenciada por fatores intrínsecos do alimento, como pH, atividade de água e teor de sólidos. Produtos com maior teor de sólidos, como polpas de frutas ou laticínios concentrados, podem exigir ajustes na temperatura e no tempo de processamento para garantir a inativação microbiana eficaz. Isso ocorre porque a presença de sólidos pode afetar a transferência de calor e a distribuição térmica no produto.

Validação do Processo de Pasteurização 

A validação de um processo de pasteurização em linha é importante para garantir que o produto final atenda aos padrões de segurança dos alimentos, assegurando a inativação de microrganismos patogênicos enquanto preserva as características do alimento. Esse processo envolve diversas etapas técnicas:

1. Análise Microbiológica

  • Determina-se os microrganismos-alvo, como Salmonella spp., Listeria monocytogenes e Mycobacterium bovis, e suas características de resistência térmica. Parâmetros críticos incluem o valor D (tempo necessário para reduzir 90% da população microbiana a uma temperatura específica) e o valor z (variação de temperatura necessária para alterar o valor D em dez vezes). Esses dados são usados para calcular o tempo e a temperatura necessários para atingir a redução desejada.

2. Teste de Penetração de Calor

  • Avalia-se a distribuição de temperatura no produto e nos equipamentos de pasteurização, considerando aspectos como:
    • Uniformidade térmica nos pontos críticos.
    • O impacto de sólidos suspensos no tempo de transferência térmica.

Utilização de termopares para medir a temperatura em diferentes pontos do fluxo.

3. Monitoramento Contínuo

  •  Sistemas de monitoramento em tempo real são essenciais para verificar a conformidade operacional com os parâmetros validados:
    • Válvulas de Desvio Sanitárias: Instaladas para garantir que qualquer produto que não atinja as condições de temperatura e tempo necessárias seja automaticamente desviado para recirculação ou descarte, evitando contaminações.
    • Registro de Dados: Sensores conectados a registradores de dados medem continuamente parâmetros críticos, como temperatura no ponto mais frio e vazão, garantindo rastreabilidade e conformidade regulatória.
    • Alarmes de Falha: Alarmes automáticos são configurados para alertar operadores sobre desvios nos parâmetros críticos, como queda de temperatura ou fluxo inadequado.

4. Monitoramento e Segurança dos Alimentos

O monitoramento contínuo do processo de pasteurização é importante para garantir a segurança dos alimentos:

  • Sensores de Temperatura
    •  Dispositivos instalados em pontos críticos para assegurar que as temperaturas desejadas sejam alcançadas e mantidas.
  • Controle de Tempo de Retenção
    • Garantia de que o produto permaneça no tempo necessário sob a temperatura estabelecida para inativação microbiana.
  • Análises Microbiológicas Regulares
    • Testes periódicos dos produtos finais para detectar possíveis contaminações.
  • Manutenção Preventiva dos Equipamentos
    •  Rotinas de manutenção para assegurar o funcionamento adequado dos pasteurizadores e evitar falhas no processo.

Concluindo, a pasteurização é uma técnica essencial na indústria alimentícia, garantindo a segurança e a qualidade dos produtos. Com a implementação correta dos processos, monitoramento contínuo e validação eficaz, a pasteurização permanece um dos métodos mais confiáveis para a indústria de alimentos e bebidas.

Foto de Marieli Rosseto

Marieli Rosseto

Doutora e mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos, graduada em Tecnologia de Alimentos e Agronegócio. Especialista em Qualidade, Segurança de Alimentos e Educação Inclusiva, atua como especialista de processos na indústria de soro de leite e professora na área de qualidade no setor lácteo. Na pesquisa, dedica-se ao desenvolvimento de soluções sustentáveis para a indústria de alimentos, como filmes biodegradáveis a partir de resíduos. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8172882358532158

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