Um estudo recente conduzido no Brasil
Rosseto et al. (2025) apresentaram formulações de filmes inovadores compostos por amido de milho, soro de leite, transglutaminase e extrato de folhas de brócolis. Essa combinação prolongou a vida útil do queijo Minas e ainda valorizou resíduos agroindustriais, alinhando ciência e economia circular.
Cada ingrediente foi selecionado de forma estratégica. O soro de leite forma uma matriz polimérica quebradiça, e por isso recebeu o reforço do amido de milho, biopolímero auxiliar que aumentou a flexibilidade sem introduzir novos alergênicos. A transglutaminase foi adicionada para promover ligações cruzadas entre proteínas, melhorando resistência mecânica, elasticidade e retenção de água. Já o extrato de folhas de brócolis, rico em compostos fenólicos, flavonoides e glucosinolatos, agregou propriedades antioxidantes e antimicrobianas. O uso apenas das folhas — geralmente descartadas — mostrou ainda o potencial de valorização de resíduos hortícolas.
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Inovação tecnológica no setor de embalagens
O diferencial desse estudo está no uso sinérgico da transglutaminase e do brócolis. A enzima reduziu a solubilidade em água e reforçou a estrutura do filme, enquanto o extrato vegetal elevou a atividade antioxidante e aumentou a barreira ao vapor.
Aplicados ao queijo Minas e armazenados a 4 °C por 60 dias, os filmes mostraram resultados expressivos: menos perda de peso, maior retenção de umidade e redução drástica da contagem microbiana. A formulação com concentrado proteico de soro (WPC 80) foi a mais eficaz, diminuindo a carga de microrganismos de 10⁷ para 10³ UFC/g. Para ampliar a comparação entre formulações, foi criado o Índice Funcional de Embalagem (IFE), ferramenta inédita para medir o desempenho tecnológico.
Sustentabilidade e economia circular
A pesquisa também aponta soluções ambientais. O setor lácteo é um dos grandes consumidores de plásticos descartáveis, principalmente em queijos e leites fluídos. Substituir parte dessas embalagens por filmes comestíveis pode reduzir toneladas de resíduos a cada ano.
O estudo ainda incorpora ingredientes muitas vezes tratados como passivo ambiental. O soro de leite transforma-se em insumo de alto valor, enquanto as folhas de brócolis, que representam até 80% da planta, são aproveitadas como fonte promissora para formulações funcionais.
Aplicações práticas e perspectivas para a indústria
A inovação traz ganhos para todos os portes de produção. Pequenas queijarias encontram uma alternativa acessível e sustentável, enquanto grandes indústrias podem agregar valor, atender ao mercado externo e responder à demanda por práticas mais verdes.
Persistem, porém, desafios: escalabilidade da produção, custos em relação ao plástico e adequação regulatória para aplicação direta em alimentos. Mesmo assim, os avanços mostram que a substituição parcial de plásticos por filmes biodegradáveis já não é uma ideia distante, mas uma realidade em construção.
Conclusão
Filmes compostos por amido, soro de leite, transglutaminase e extrato de folhas de brócolis provaram ser eficazes para prolongar a vida útil do queijo Minas por até 60 dias, mantendo qualidade físico-química e microbiológica. Estudos internacionais com nanocristais de celulose reforçam o potencial de escalabilidade e a competitividade frente ao polietileno.
Assim, ciência, inovação e sustentabilidade se unem para colocar os filmes comestíveis como candidatos promissores na revolução das embalagens lácteas.
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