Um mercado que hoje vale 15 bilhões de dólares, mas que deve mais que dobrar até 2034. Não se trata de uma nova planta ou uma invenção laboratorial: estamos falando do leite de camela. Enquanto no Brasil o termo ainda soa exótico ou até folclórico, países como Emirados Árabes, Índia, Austrália e até Estados Unidos estão transformando esse leite tradicional em um negócio global – com potencial de atingir 34,9 bilhões de dólares em menos de 10 anos. Mas o que justifica esse crescimento? O que ele tem que o leite de vaca (ou mesmo o de cabra) não entrega? E, o mais importante: o que isso significa para a cadeia de laticínios bovinos? Este artigo apresenta as tendências por trás do “boom da camela” e propõe reflexões para quem atua ou deseja inovar no setor lácteo.
O que está por trás do crescimento?
De acordo com o relatório da Custom Market Insights (2025), o leite de camela vem ganhando espaço por ser considerado um alimento funcional, ou seja, que vai além da nutrição básica. Rico em imunoglobulinas, lactoferrina, vitamina C, e com composição proteica diferenciada – incluindo proteínas que mimetizam insulina –, esse leite tem chamado atenção de consumidores com intolerância à lactose, diabetes ou alergias às caseínas do leite bovino. A promessa de benefícios digestivos, imunológicos e dermatológicos transformou a camela numa aliada de quem busca saúde via alimentação.
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* Ig/Lf = imunoglobulinas e lactoferrina, índice relativo de concentração funcional com base em fontes técnico-científicas
Produtos e canais: muito além do leite in natura
O mercado global não está limitado ao leite fluido. Estão crescendo as linhas de leite em pó, iogurtes fermentados, chocolates, cosméticos, suplementos em pó e até fórmulas infantis. A inovação em sabores e formas de consumo tem aproximado o leite de camela de públicos urbanos, atletas, idosos e pais em busca de alternativas para crianças com restrições alimentares. Além disso, canais como e-commerce e modelos D2C (venda direta ao consumidor) têm sido fundamentais para a expansão de marcas pequenas e artesanais, que utilizam storytelling e marketing de origem como diferencial competitivo.
Análise SWOT do setor de leite de camela
Adaptando os principais pontos do relatório para a linguagem do Derivando Leite:
O que isso significa para o Brasil?
Embora o Brasil não seja uma região tradicional de criação de camelos, o crescimento do leite de camela no mundo traz aprendizados importantes. O principal deles: a diferenciação baseada em valor agregado. Se um produto historicamente marginalizado, de difícil acesso e com alto custo consegue conquistar consumidores globais, o que falta para o Brasil transformar ainda mais seu leite bovino – rico, abundante e tecnicamente seguro – em alimento funcional, com storytelling, segmentação e inovação? A resposta pode estar no reposicionamento de produtos como o leite A2, os derivados de leite cru (seguindo normas de segurança), os queijos artesanais com identidade territorial e até os derivados enriquecidos com probióticos, minerais ou compostos bioativos. A diversificação do leite de camela mostra que nicho bem explorado vira mercado.
Conclusão
O leite de camela é, sim, uma tendência crescente. E não se trata apenas de um modismo do Oriente ou das elites urbanas. É reflexo de um movimento maior: o consumidor quer saúde, propósito, origem, ética e conveniência. Não é preciso criar um rebanho de camelas no sertão para entrar nesse movimento – mas sim, entender o que faz um alimento virar símbolo de valor e traduzir isso para o que já temos em abundância: o leite bovino brasileiro. Seja pela revalorização de microrregiões leiteiras, seja pela inovação em derivados com base científica, o setor lácteo nacional pode (e deve) olhar para além da ordenha diária e enxergar o que o mercado já está sinalizando: não basta alimentar, é preciso encantar.
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