Gorgonzola ou Queijo Azul? Entenda a mudança no Brasil

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Quem visitou recentemente as prateleiras de queijos pode ter notado uma ausência curiosa: o “Queijo tipo Gorgonzola” praticamente desapareceu, dando lugar ao chamado “Queijo Azul”. Mas afinal, por que essa mudança ocorreu, e o que ela significa para produtores e consumidores?

Fonte da imagem:
CBN – Gorgonzola ou Queijo Azul? Saiba o motivo da troca do nome do alimento

O que motivou a mudança?

A alteração no nome está relacionada ao Acordo de Livre Comércio entre o Mercosul e a União Europeia, firmado em 2019.
Um dos pontos principais do acordo é o reconhecimento mútuo das Indicações Geográficas (IGs): nomes que identificam produtos ligados a uma origem específica e a processos tradicionais, como “Champagne”, “Parma” ou “Gorgonzola”.

Assim, de acordo com as regras internacionais, só pode ser chamado de “Gorgonzola” o queijo produzido conforme as normas tradicionais da Itália, na região de Gorgonzola, especificamente em áreas como Lombardia e Piemonte. O mesmo raciocínio vale para outros queijos, como Roquefort ou Parmigiano Reggiano.

Como isso impacta o Brasil?

Com o reconhecimento da Denominação de Origem Protegida (DOP) do Gorgonzola, os produtores brasileiros não podem mais usar esse nome, nem mesmo com o complemento “tipo”. Assim, a orientação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), baseada na Instrução Normativa nº 45/2007 e no Decreto 9.013/2017, foi clara: a partir de então, o termo correto seria “Queijo Azul”.

Segundo o MilkPoint, Algumas marcas se anteciparam e já mudaram os rótulos. Um exemplo é a Santa Clara, que substituiu a nomenclatura para “Queijo Azul”, mantendo todas as características que o consumidor conhece: sabor marcante, aroma picante e maturação de 35 dias.
Outro exemplo é a Lac Lélo, que lançou seu “Queijo Azul” inspirado na tradição italiana, utilizando o Penicillium roqueforti importado da França, conferindo textura quebradiça e sabor característico.

Por que essa proteção é importante?

As Indicações Geográficas são ferramentas para preservar tradições e valorizar patrimônios culturais associados à produção de alimentos. No caso do Gorgonzola, a Itália protege o nome desde o ano 2000, assegurando que somente os queijos produzidos em sua região tradicional possam ser comercializados com essa denominação.

Esse modelo já foi aplicado em outras situações:

  • O espumante francês só pode ser chamado de “Champagne” se produzido na respectiva região.

  • O “Roquefort” também é protegido, o que impede o uso do nome por produtores fora da França.

A proteção evita confusões comerciais, promove transparência para o consumidor e assegura que as tradições sejam respeitadas.

O que muda na prática?

  • Produtores brasileiros não podem mais utilizar o termo “Gorgonzola” em novos lançamentos.

  • Produtos já registrados antes de 2017 podem continuar usando o nome, desde que comprovado o uso contínuo e a inscrição na lista de usuários pré-existentes mantida pelo MAPA.

  • Novos produtos devem ser rotulados como “Queijo Azul”, “Azul Cremoso” ou outros nomes criativos que ajudem a construir uma identidade brasileira.

Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Queijo (ABIQ), a mudança é também uma oportunidade: o Brasil, terceiro maior mercado consumidor de queijos do mundo, pode desenvolver e valorizar marcas próprias.

O sabor e a qualidade mudam?

Não. A mudança é exclusivamente no nome.
As características sensoriais — o sabor forte e marcante, a textura amanteigada e as clássicas veias azuladas causadas pela ação do Penicillium — permanecem as mesmas.

O que o Brasil ganha com isso?

Apesar de parecer uma perda, há benefícios importantes:

✅ Transparência para o consumidor sobre a origem dos produtos.

✅ Respeito às tradições europeias e ao sistema internacional de IGs.

✅ Oportunidade para os brasileiros criarem e valorizarem seus próprios queijos, investindo em identidades locais e inovações.

Exemplo disso é o Queijo Tulha, brasileiro, que conquistou reconhecimento internacional por sua qualidade e já possui Indicação Geográfica.

E quem ainda pode usar o nome “Gorgonzola”?

De acordo com o MAPA, produtores que:
✅ Já utilizavam o nome comercialmente antes da consulta pública (até 2017 para o Gorgonzola);
✅ Comprovaram o uso contínuo;
✅ Estão inscritos na lista oficial de usuários pré-existentes.

Empresas que não se adequarem podem incorrer em violações de propriedade industrial, estando sujeitas a sanções legais, apreensão de produtos e multas.

Conclusão

O tradicional “Queijo tipo Gorgonzola” agora é, oficialmente, “Queijo Azul” no Brasil.
A mudança, motivada por acordos internacionais e pela proteção das Indicações Geográficas, representa um marco na indústria queijeira nacional.

Mais do que uma simples troca de nome, trata-se de uma oportunidade estratégica: reforçar a identidade dos queijos brasileiros, inovar, valorizar o que é produzido localmente e explorar novos mercados.

Seja como for chamado, o sabor marcante do queijo azul continua a conquistar cada vez mais apreciadores no Brasil e no mundo.

Saiba mais:

Foto de Marcos Nazareth

Marcos Nazareth

Mestrando, Professor de química pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e técnico em Laticínios pelo Instituto Laticínios Cândido Tostes. Entusiasta da internet e informação. Gerente Industrial | Empreendedor | Investidor

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