Você já se perguntou por que um iogurte pode ser mais cremoso que outro, ou por que certos queijos apresentam texturas tão diferentes mesmo sendo do mesmo tipo? A resposta pode estar na reometria — uma ciência que avalia como os materiais respondem a esforços como tensão, compressão e cisalhamento. Na indústria de laticínios, entender o comportamento reológico de cada produto é fundamental para garantir consistência, qualidade e aceitação do consumidor. Mais do que números, esses testes revelam as características sensoriais e estruturais que definem o sucesso de um derivado lácteo no mercado.
O que é reometria e por que ela importa
A reometria é o estudo das propriedades de fluxo e deformação de materiais, sendo uma ferramenta essencial para entender o comportamento reológico de substâncias complexas como alimentos, polímeros e cosméticos (Pethrick, 1998). Ela vai além da simples medição de viscosidade, permitindo avaliar como os produtos reagem a diferentes tipos de estresse e deformações — por exemplo, se um creme de leite escorre facilmente, se um queijo se deforma ao corte ou se um leite fermentado mantém sua estrutura após o envase (Weipert, 1990).
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A importância da reometria está na capacidade de prever e evitar defeitos durante o desenvolvimento e o processamento de produtos. Ao compreender o comportamento reológico de um material, é possível antecipar problemas como sinérese, separação de fases, endurecimento indesejado ou ausência de cremosidade — fatores críticos para a qualidade final de alimentos processados (Tan et al., 2019), (Yoshida et al., 2019).
Além disso, o uso de tecnologias de reometria em linha e em tempo real permite o controle preciso da qualidade durante o processamento industrial, reduzindo perdas e garantindo maior consistência nos produtos finais (Konigsberg et al., 2013), (Wiklund, 2008).
Propriedades reológicas mais comuns em lácteos
Na indústria de laticínios, as principais propriedades estudadas são:
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Viscosidade aparente – importante para bebidas lácteas, cremes, iogurtes e doces pastosos.
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Comportamento tixotrópico – reflete como o produto se recupera após sofrer agitação, essencial em sobremesas e molhos.
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Elasticidade e rigidez – fundamentais em queijos, requeijões e produtos semissólidos.
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Curvas de escoamento – indicam se o produto é newtoniano ou pseudoplástico, o que afeta o processamento e a embalagem.
Equipamentos e metodologias disponíveis
Os ensaios podem ser feitos com viscosímetros rotacionais ou reômetros avançados. A escolha do equipamento depende da complexidade do produto e da profundidade da análise. Em fábricas de pequeno e médio porte, muitos testes já são viáveis com instrumentos acessíveis, como viscosímetros Brookfield, que avaliam a resistência ao escoamento sob diferentes rotações.
Já os reômetros mais sofisticados permitem mapear o comportamento em função da frequência, temperatura e deformação, sendo ideais para pesquisa e desenvolvimento de novos produtos.
Aplicações práticas na indústria
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Queijos: medição de elasticidade e força de corte auxilia na padronização de textura entre lotes e na definição do ponto ideal de maturação.
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Iogurtes e bebidas lácteas: ajuste de cremosidade, controle de sinérese e garantia de consistência ao longo da validade.
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Doce de leite e sobremesas: controle da viscosidade para melhorar o envase e a aceitação sensorial.
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Requeijão cremoso e cream cheese: análise de espalhabilidade e estabilidade térmica durante o uso culinário.
Quando aplicar testes reológicos?
Os testes devem ser aplicados em momentos-chave:
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Desenvolvimento de novos produtos
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Ajuste de formulações e texturas
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Seleção de estabilizantes e espessantes
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Validação de etapas de homogeneização, pasteurização e resfriamento
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Controle de qualidade entre lotes
Reometria e percepção do consumidor
A textura percebida pelo consumidor é um dos maiores fatores de aceitação. Produtos com textura inconsistente geram rejeição, mesmo que os parâmetros físico-químicos estejam dentro dos padrões. A reometria atua como uma ponte entre o laboratório e o paladar: traduz as expectativas sensoriais em parâmetros técnicos mensuráveis e controláveis.
Para aprofundar o entendimento sobre como a textura e a viscosidade impactam a aceitação sensorial dos lácteos, vale conferir os artigos “Textura, viscosidade e percepção sensorial em lácteos” e “O segredo da textura do iogurte grego: reologia no controle”, ambos disponíveis no Derivando Leite.