Validação de pasteurizador na prática

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Garantir a segurança microbiológica do leite é uma das prioridades da indústria láctea — e isso começa com um processo de pasteurização bem validado. Diante da importância do tema e da necessidade crescente por embasamento técnico-científico na validação de processos térmicos, este artigo apresenta e comenta os resultados do estudo Validação do processo de pasteurização rápida de leite em trocador de placas, publicado na Revista Técnica da Agroindústria (vol. 2, n. 1 – Artigo 030, maio de 2025), de autoria das pesquisadoras Elisabete Tonel e Tahis Regina Baú, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).

Por que validar a pasteurização?

A pasteurização é uma etapa crítica na produção de leite, pois tem como principal função eliminar microrganismos que podem causar doenças, como Listeria monocytogenes, Salmonella spp. e Escherichia coli. Para que esse objetivo seja alcançado de forma consistente, é necessário validar o processo.

A validação da pasteurização é importante por diversos motivos:

  • Garantia de segurança microbiológica: A validação comprova, com dados científicos e operacionais, que o tratamento térmico aplicado é eficaz contra microrganismos patogênicos, mesmo em variações operacionais.

  • Atendimento à legislação: O Decreto nº 9.013/2017 (RIISPOA) permite diferentes combinações de tempo e temperatura, desde que sua equivalência seja comprovada. A validação é o caminho técnico para demonstrar essa equivalência.

  • Proteção à saúde pública: Validar evita riscos de surtos de doenças transmitidas por alimentos, aumentando a confiança do consumidor.

  • Manutenção da qualidade do leite: A pasteurização precisa ser eficaz sem comprometer os aspectos nutricionais e sensoriais do leite. A validação ajuda a balancear segurança e qualidade.

  • Base para auditorias e certificações: Um processo validado gera documentação técnica que pode ser usada para certificações de qualidade e defesa em auditorias sanitárias.

A pasteurização do leite pode ser realizada por dois métodos principais:

  • Pasteurização lenta: aquecimento do leite a 63 a 65 °C durante 30 minutos.

  • Pasteurização rápida: aquecimento a 72 a 75 °C por 15 a 20 segundos.

A validação consiste em documentar e demonstrar, com dados reais e científicos, que o processo térmico adotado é eficaz na eliminação de microrganismos patogênicos, garantindo a segurança do leite sem comprometer suas características nutricionais e sensoriais.

O estudo na prática: avaliação de um pasteurizador de placas

🧪 Equipamento utilizado:

  • Modelo: Padroniza PPL 300 (série 514)

  • Vazão nominal: 10.000 litros/hora

  • Tempo de retenção: 16 segundos

Este pasteurizador foi avaliado em uma planta de produção contínua de queijos. A temperatura registrada durante o processo variou entre 72,3 °C e 74,7 °C, permanecendo dentro do intervalo definido pelo RIISPOA para pasteurização rápida. Importante destacar: não houve desvio de fluxo durante o período monitorado.

🎯 Objetivo do estudo:

O objetivo foi validar a eficiência microbiológica do processo térmico, ou seja, verificar se o leite tratado pelo pasteurizador atendia aos critérios de redução de microrganismos definidos para segurança.

🔬 Como foi feita a análise:

  • Foram coletadas 8 amostras ao longo de 6 horas e 15 minutos de operação.

  • As amostras foram comparadas antes (leite cru) e depois (leite pasteurizado) do processo.

  • Foram analisados dois indicadores microbiológicos:

    • Mesófilos aeróbios

    • Enterobacteriaceae

  • As análises foram realizadas com placas Petrifilm™ (Neogen).

Resultados e interpretação

Os dados obtidos confirmaram a eficiência do processo térmico. A redução média de microrganismos foi altamente satisfatória, comprovando que o binômio tempo x temperatura adotado era adequado.

Uma pasteurização adequada deve proporcionar uma redução de até 6 log de microrganismos. Os dados do estudo, portanto, mostram conformidade com os padrões internacionais e nacionais de segurança.

Considerações finais

Este estudo reforça um ponto essencial: não basta aplicar a pasteurização — é preciso validá-la. A eficiência do processo deve ser comprovada por meio de análise microbiológica, respeitando o binômio tempo x temperatura e as condições operacionais reais.

A validação garante segurança, respaldo legal e confiança nos processos industriais, sendo especialmente relevante em auditorias, certificações e exportações.

Além disso, os autores do estudo ressaltam que a pasteurização é apenas uma etapa da cadeia de produção. Para garantir um produto seguro até o consumidor final, é fundamental manter boas práticas de fabricação, controle sanitário rigoroso e armazenamento adequado.

🔎 Por que divulgar estudos como este?

Artigos técnicos como o de Elisabete Tonel são essenciais para transformar conhecimento científico em prática industrial. A validação de processos garante segurança, conformidade e qualidade — e quanto mais esse tipo de conteúdo for compartilhado, mais fortalecida será a cadeia láctea. Que iniciativas como essa ganhem cada vez mais espaço!

Foto de Marieli Rosseto

Marieli Rosseto

Doutora e mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos, graduada em Tecnologia de Alimentos e Agronegócio. Especialista em Qualidade, Segurança de Alimentos e Educação Inclusiva, atua como especialista de processos na indústria de soro de leite e professora na área de qualidade no setor lácteo. Na pesquisa, dedica-se ao desenvolvimento de soluções sustentáveis para a indústria de alimentos, como filmes biodegradáveis a partir de resíduos. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8172882358532158

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